Cartas ao Pi #3

2h45. No quarto ao lado, você me chama, sempre com a mesma voz, e antes de concluir a frase, já sei o motivo. Xixi.

Eu queria negar o motivo, mas sei exatamente a razão dessa voz receosa…você lembra que eu já briguei por isso, em plena madrugada, sem qualquer empatia.

Sim, era o cansaço, o sono, a correria da mãe sobrecarregada que acordou às 3h, para acordar novamente poucas horas depois. A correria insana da vida, e acabei descontando em você, que não tem qualquer culpa. Me perdoe.

Esse jeitinho de anunciar que fez xixi na cama me dilacera, porque sei que errei feio contigo, em momento que deveria apoiar, abraçar, dizer que está tudo bem, e que logo isso não acontecerá mais. Mãe às vezes atropela não porque quer, porque acaba no automático, e essa trava é preciso estar atenta o tempo todo, principalmente na infância.

E, desde então, tem sido assim. Eu vou ao quarto ao lado com a melhor cara, digo que está tudo bem, abraço, beijo, troco de roupas, peço ajuda para a gente terminar mais rápido, e ofereço, às vezes, a minha cama. Eu gosto de saber que você está a centímetros de mim.

E lá na minha cama, eu continuo dizendo que está tudo bem fazer xixi na cama, que é difícil mesmo aprender muitas coisas na vida, e que todos passamos por isso, e que com certeza eu sentirei saudades dessas madrugadas que a gente ficava ainda mais juntinho.

Sou imperfeita, vou continuar errando, mesmo com você que é a minha melhor parte. Tô aprendendo, junto contigo, mas o mais importante de tudo isso é que, eu amo ser a sua mãe, e mesmo com todas as minhas imperfeições, dentre todas as pessoas no mundo, eu tenho certeza que sou a melhor para você chamar de mãe, e novamente, eu amo ser a sua mamãe. ❤️

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